Outro caso que está dando o que falar é o do lunático norueguês que, covardemente, assassinou dezenas de seus próprios conterrâneos. A repercussão por aqui se deve mais às citações que o destrambelhado fez em relação aos brasileiros, afirmando que a causa do Brasil ser o que é - um país corrupto, atrasado, exemplo de tudo o que há de pior no planeta - se deve ao fato de haver aqui uma mistura de "raças", o que levaria a sermos uma população de caráter fraco, seres inferiores. Que o Brasil é um país corrupto, atrasado e exemplo de tudo o que há de pior no planeta não há dúvida alguma, convenhamos. Mas será a mistura de "raças" a causa de nosso atraso?
João Pereira Coutinho escreveu na Folha de ontem um excelente artigo sobre o caso da Noruega. Leiam o artigo, vale a pena. Depois eu volto para levantar umas questões específicas sobre a tal "mistura de raças".
O Terrorista da Noruega
Há algo de podre no reino da Noruega. Ou não há? Lendo os jornais, acreditamos que não. Tudo é silêncio. Nenhum sermão sobre esse tipo de massacre.
Estranho: quando um louco entra numa escola americana e abre fogo sobre os estudantes, a mídia é inundada por sábios, dispostos a explicar tudo, exceto o óbvio.
A culpa é da América. A culpa é de uma história nacional de violência que sempre promoveu a violência. A culpa é das armas, vendidas em todo o lado, sem restrições.
A culpa é dos filmes. Da televisão. Da MTV. Do sr. Marilyn Manson. Do Mickey Mouse. A culpa é de todo mundo, exceto de quem premiu o gatilho.
Esse raciocínio não se aplica apenas às matanças americanas. Aplica-se também ao terrorista clássico, leia-se islamita, que o 11 de Setembro catapultou para as primeiras páginas. Uma bomba em Londres, Madri ou Tel Aviv?
A culpa não é dos terroristas. A culpa, deliciosa ironia, é novamente da América. Ou do seu irmão mais novo, Israel, que “roubou” a terra dos palestinos. A culpa é da pobreza. A culpa é da fome. A culpa é do colonialismo. A culpa é nossa, nunca dos outros.
Nada disso existe nas reações conhecidas ao massacre da Noruega. Os sábios ficaram sem roteiro e olham, pasmados, para os números: das vítimas e, já agora, da excelência do país.
Anthony Browne, no “Sunday Telegraph”, recordava alguma dessa excelência. Segundo as Nações Unidas, a Noruega está no top dos países com melhor qualidade de vida. É presença permanente nas missões de paz em zonas de conflito. É o maior doador de ajuda externa per capita do mundo.
Também não existe nenhuma sombra colonial, ou imperial, a pairar sobre os noruegueses. Em matéria econômica, a Noruega conjuga o supremo sonho dos progressistas: igualdade social com crescimento econômico.
E sobre as armas, sim, elas existem num país de caçadores; mas a legislação sobre a compra e o porte de armas é das mais rigorosas da Europa. O que resta, depois de tudo isso?
Restam três palavras: Anders Behring Breivik. Ou, como o próprio assinou no seu manifesto de 1.500 páginas, Andrew Berwick. Não é preciso procurar as causas imaginárias quando é o próprio a explicar o seu pensamento.
E o seu pensamento, já traduzido pela revista “Foreign Policy”, é indistinguível do pensamento radical jihadista que nos assalta sazonalmente.
Encontramos o mesmo desprezo pela democracia liberal e pelas sociedades pluralistas do Ocidente. A mesma náusea pela “cultura de tolerância” e pelo reles materialismo dos ocidentais.
O mesmo toque de misoginia e puritanismo em relação ao “sexo frágil” -as páginas sobre os hábitos sexuais “devassos” da mãe e da irmã arrepiam qualquer um.
E, surpresa das surpresas, uma admiração assaz heterodoxa pela Al Qaeda e pelo seu defunto líder, Osama bin Laden. Bizarro?
Nem por isso. Breivik despreza a “islamização” da Europa e deseja travá-la pela força das armas. Mas, nessa fobia demente, existem palavras de admiração sobre a disciplina, a tenacidade e até o manual de treino da turma de Bin Laden.
Aliás, os objetivos de ambos são similares: reconquistar a Europa para uma fé perdida. No caso de Bin Laden, reconquistar a Europa para o profeta.
Para Breivik, reconquistá-la para a cristandade. “Tal como os guerreiros jihadistas são as ameixoeiras da Ummah [o mundo islâmico]“, escreve Breivik no manifesto, “nós seremos as ameixoeiras da Europa e do cristianismo.”
Quem disse que os inimigos não nutriam admiração mútua? Hitler era um admirador sincero da violência e da implacabilidade de Stálin.
Regresso ao início: não vale a pena tanto silêncio perante o massacre da Noruega.
No seu inefável horror, ele ensina como as ideias erradas, na cabeça errada, continuam a ser o verdadeiro motor da história.
E o fato de nós, ocidentais, vivermos num estágio pós-ideológico onde nada é importante porque nada tem importância não significa necessariamente que os outros nos acompanham nessa doce viagem relativista.
Como o próprio Breivik confessou pela internet, “uma pessoa com convicção tem a força equivalente a 100 mil que tenham interesses apenas”.
No melhor e no pior, a história da humanidade é a confirmação desse pensamento.
João Pereira Coutinho
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Concordo plenamente com Coutinho. Agora à questão da mistura de "raças":
O leitor mais atento já percebeu que eu sempre uso a palavra "raça" entre aspas, quando falamos em seres humanos. Isto porque, simplesmente, não existe o conceito de raça entre humanos. Não é assim porque eu quero, assim é porque a ciência nos ensina. Somos todos membros da mesma familia humana. Ponto. No Brasil essa questão de dividir a sociedade em raças, através das malditas "cotas raciais", está sendo levantada por estratégia da Esquerda. Estratégia demagoga, populista e extremamente perigosa.
A ciência nos ensina, ainda, que a mistura de etnias não é, como quer o fanático norueguês - e como quiseram tantos outros em tempos sombrios - algo que venha "enfraquecer" uma população, seja ela qual for. Muitíssimo pelo contrário. É exatamente a diversidade genética a responsável pela sobrevivência das espécies. Isso vale para toda e qualquer espécie, para qualquer animal, inclusive e, especialmente, para nós humanos. O conceito nacional-socialista de "raça pura" é uma grande bobagem, cientificamente falando.
Se o Brasil é exemplo de país atrasado, os Estados Unidos da América são o exemplo de um país desenvolvido, de uma sociedade avançada. E o que se observa na população norte-americana? Uma mistura de etnias maior ainda do que a existente no Brasil. E é justamente essa diversidade de etnias vivendo pacificamente a força dos E.U.A.
O problema do Brasil, portanto, nada tem a ver com "mistura de raças". Isso é de uma idiotice sem tamanho.
O xenófobo norueguês se diz cristão e culpa também o marxismo pelas mazelas brasileiras. Sim, o marxismo realmente é a vanguarda do nosso atraso, principalmente porque formou, junto com o cristianismo do norueguês, a base do senso comum, não apenas no Brasil, mas em toda América Latina, onde todo progresso material e intelectual é visto como algo desprezível, algo a ser mesmo evitado, glorificando sempre a mediocridade, a falta de cultura, a miséria material e intelectual.
A nossa mistura étnica é nossa maior força, motivo de nos orgulharmos. Estive recentemente em São Paulo, passei uns dias lá, acompanhando os ensaios da peça do Gerald Thomas. Percebi a grande diversidade de etnias, mas o que me chamou a atenção foi o grande número de descendentes de japoneses. Pergunto: o que seria de Sampa sem a beleza daquelas japonesinhas maravilhosas?
O Vampiro de Curitiba