Blog do Vamp

O Vampiro de Curitiba




___"Estado, chamo eu, o lugar onde todos, bons ou malvados, são bebedores de veneno; Estado, o lugar onde todos, bons ou malvados, perdem-se a si mesmos; Estado, o lugar onde o lento suicídio de todos chama-se... "vida"!" (F. Nietzsche)

As Lamentações do Dinossauro - João Pereira Coutinho

Até tenho refletido sobre vários assuntos, desde que retornei à Curitiba. Tenho lido muito sobre Biologia Evolutiva e outras questões que me facilitam o entendimento sobre o ser humano. Mas não me sinto à vontade, ainda, para escrever. Questão pessoal. Se por um lado entendo mais sobre o  ser humano, por outro fico cada vez mais confuso sobre mim mesmo e sobre os humanos que me cercam. A vida é confusa.
 
Espero retornar o mais breve possível aos textos, enquanto isso não acontece deixo um texto de João Pereira Coutinho analisando o livro "A Civilização do Espetáculo" de Mario Vargas Llosa. Creio que dá um bom debate. Confiram:
 
As lamentações do Dinossauro
 
Terminei a leitura do último livro de Mario Vargas Llosa ("A Civilização do Espetáculo", editora Quetzal, 219 págs.) exatamente como gosto de terminar um livro: com notas extensas de concórdias e discórdias, escritas pelo meu punho, ao longo de todo o livro.
 
Mas, primeiro, as apresentações: Vargas Llosa apresenta-se como "um dinossauro em tempos difíceis". O que significa este jurássico autorretrato?

Significa uma confissão: Vargas Llosa olha em volta e vê frivolidade, aparência --numa palavra, "espetáculo". E vê o desaparecimento da cultura como experiência ética e estética que nos permite compreender os problemas do mundo.

Hoje, esta "civilização do espetáculo", que se desdobra em livros "light", filmes "light", arte "light", religiões "light" e até relacionamentos pessoais "light", serve apenas para fugirmos dos problemas do mundo. Numa palavra, serve para nos "alienarmos".

O termo não é inocente, e Vargas Llosa sabe disso: como diria Marx e os seus discípulos, sobretudo o "situacionista" Guy Debord, existe na civilização de hoje, como existia na civilização dos séculos 19 e 20, uma vontade desesperada de remeter o pensamento e a cultura para as margens da sociedade capitalista. E aqui reside a minha pergunta primeira: não terá sido sempre assim?

Platão, na sua "República", não era particularmente entusiasta dos poetas da sua época. Shakespeare, tido agora como parte fundamental do "cânone ocidental", era considerado um dramaturgo "popular" pela "intelligentsia" da Inglaterra isabelina.

Não estaremos nós também a ver superficialidade em toda a parte e a cometer o mesmo erro dos nossos antepassados, que sempre se consideraram testemunhas de um mundo em decadência?

Woody Allen, de quem Vargas Llosa manifestamente não gosta, glosou sobre o assunto em "Meia-Noite em Paris": há nos contemporâneos de todas as eras um descontentamento com o presente que os leva a romantizar eras passadas.

Assim acontecia com o personagem do filme, o roteirista Gil (um notável Owen Wilson), que suspirava no século 21 pela Paris da década de 20. Até viajar a esse passado de "festa móvel", como lhe chamou Hemingway, e descobrir que os contemporâneos da década de 20 suspiravam pela Belle Époque; e os contemporâneos da Belle Época, pelo Renascimento italiano; e etc. etc., sempre em regressão nostálgica.

Não quero com isso dizer --Deus me livre e guarde!-- que um dia olharemos para as brincadeiras conceituais de um Damien Hirst da mesma forma que olhamos para um Cézanne ou para um Matisse. Nessa matéria, o vaso sanitário de Marcel Duchamp já encerrou há muito o capítulo dos "happenings" circenses.

Mas será preciso reproduzir aqui o que os críticos coevos de Cézanne e Matisse escreveram à época sobre os quadros desses dois reputados mestres?

Ponto de ordem. Concordo com Vargas Llosa sobre a "civilização do espetáculo" que se espalhou em volta. Concordo que a sensibilidade cultural do nosso tempo torna mais difícil o aparecimento de um James Joyce porque escasseia o público exigente e paciente para o ler. Concordo que o "eclipse" do intelectual se deve ao papel abjeto que ele teve, sobretudo no século 20, ao emprestar o seu nome e prestígio a regimes totalitários.

E concordo, de alma e coração, que o relativismo larvar que contaminou a "crítica" e as "humanidades" faz com que hoje uma ópera de Verdi ou um concerto dos Rolling Stones sejam colocados no mesmo patamar valorativo.

Mas introduzo aqui uma ligeira variação ao argumento central de Vargas Llosa: vivemos hoje uma "civilização do espetáculo" porque o nosso tempo globalizado criou os mecanismos de difusão que nos permitem assistir a esse excesso de espetáculo.

Assistimos a tudo: ao lixo cultural, mas também a raras preciosidades. Assistimos aos tubarões em formol de Damien Hirst, mas também aos retratos de Lucien Freud. Assistimos à mediocridade pirotécnica de Hollywood, mas também ao cinema de Michael Haneke. Lemos Dan Brown, mas também os romances do próprio Vargas Llosa.

Perante esta selva estética e ética, o caminho não está em jogar a toalha e decretar o fim de uma "civilização". Está, pelo contrário, em ser "um dinossauro com calças e gravata", disposto a resgatar do caos o que merece ser celebrado como nunca.

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O Vampiro de Curitiba

15 comentários:

O João Pereira Coutinho fez um bom texto a respeito do mundo contemporâneo. Mas o último parágrafo do texto me incomodou. Ele afirmou com convicção que "(...) o caminho não está em jogar a toalha e decretar o fim de uma 'civilização'. Está, pelo contrário, em ser 'um dinossauro com calças e gravata', disposto a resgatar do caos o que merece ser celebrado como nunca."

Eu não fiquei convencido disso, não.

Garganta.

 

Terei que ler mais uma vez, mas poderia adiantar que:sofisticações que se expandem é a cruel sentença da ultra modernidade que vivemos, realidades inoperantes, tempos imbecis, o espetáculo da morte, vide o vídeo ou os vídeos.

 

Garganta, o Vamp explica: não devemos jogar o bebê junto com a água suja. Simples assim.

 

Pode ser, Vampiro. Mas eu não fiquei convencido de que o bebê mergulhado na água suja não signifique o fim de uma "civilização". O fato de eu encontrar uma ou outra coisa de valor no meio de um monte de outras sem valor não me autoriza a dizer que o conjunto das coisas não se perdeu. De maneira que me parece perfeitamente plausível (talvez necessário) jogar a toalha e decretar o fim de uma "civilização". Não que eu ache que este seja o caminho, mas eu não estou convencido também de que não seja...

Garganta.

 

Garganta, mas, como o próprio texto dá a entender, o fim da civilização já foi diagnostificado muitas outras vezes e continuará a ser eternamente.

 

no fim, acho que se resume em; sonho e nostalgia.

Perspectivas no futuro, valorização de lembranças do passado.
O presente não tem graça. O presente é curto, chato, sempre em vias de extinção.

 

Vamp:

Eu leio Nietzche grifando página por página. Ou seja, gosto muito, mas a única coisa que não aceito da sua filosofia é o Eterno Retorno; eu tenho medo deste castigo terrível.

 

Serge, o próprio Nietzsche disse que não importa se existe ou não o Eterno Retorno, o importante é viver como se exixtisse.

 

Eu estou achando que amanhã vai dar cadeia para o Zé Dirceu, chefe do golpe. O último andamento do processo do Mensalão, com a data de hoje, é um ofício para algum lugar. Torço para que seja o merecido mandado de prisão!

Fonte:

http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=11541

Garganta.

 

Vamp, pausa para te desejar um super NATAL!!!!!!

 

Obrigado, Sandra!
Desejo o mesmo para você e os seus.
Beijos!

 

Com certeza, o nosso ano novo vai ser mais tranqüilo do que o do Dirceu, o chefe oficial do golpe:

"Está de camiseta preta e calça jeans cinza.

Senta no sofá da sala. A empregada ainda não chegou. Ele se desculpa. Não tem nada o que servir.

'Eu não vou dar entrevista para você, não', diz à colunista da Folha. 'Podemos conversar, mas não quero gravar. Não estou com cabeça. Dar uma entrevista agora, sem saber se vou ser preso? É loucura, eu não consigo.'

E, diante da insistência: 'Estou com uma intuição, não devo dar'.

Em poucos minutos, chegam o advogado Oliveira Lima, três assessores e uma repórter que trabalha no blog que o petista mantém.

Dirceu pega o seu iPad.

'Acho que eu vou lá [no escritório do apartamento] fazer um artigo para o blog. Mas falar sobre a situação econômica do Brasil, gente? Hoje? Eu não estou com cabeça.'"

Fonte:

http://www1.folha.uol.com.br/poder/1205255-dirceu-tem-momentos-de-tensao-a-espera-da-policia.shtml

Garganta.

 

Desejo um super feliz Natal a todos!

 

...antes de lhe desejar um 2013 bacana, peço-lhe permissão para lhe dizer que, excesso de intelecto, como o excesso de comida, pode causar indigestão. O calvário dos filósofos, é que, mais do que ninguém eles sabem, que a cada resposta, o que lhes restam, é uma próxima pergunta, como num Eterno Retorno.
Alguns teem isto como um grande sofrimento, outros, como uma eterna diversão.
...tava olhando aí nos outros pôstes,...tu continua com aquela mania, de ridicularizar a nós petralhas, felizmente, parece que tu não se alienou a ponto, de achar que este tal de mensalão, é " o maior ato de corrupção de nossa história". Parabéns.

 

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